Naturalmente, corpo.

O natural é hostil, não obstante, é imagem da natureza disciplinadora de Deus. Como um pai educa os filhos, a natureza torna-se um elemento regulador de limites, posição e resposta ao comportamento, às ações humanas. Como um filho naturalmente vê ao pai, a natureza carrega, à mostra, o peso da presença do Nome de Deus permeando a Sua obra, a criação.

A questão que mais me incomoda é: Por que o ser humano tende a buscar apenas a presença do Senhor em eventos sobrenaturais, quando, de forma clara e evidente, Deus se manifesta em todo o natural, em toda a criação? (Maniqueísmo é idiotice óbvia, criaturas jamais devem ser adoradas, apenas O Criador.)

A espiritualização exagerada do natural também traz miopia ao povo, por criar uma falsa necessidade: a de que Deus precisa se manifestar de forma sobrenatural para estar presente. Mas, uma vez que a criação toda existe em Deus e apenas por Deus, embora Ele não seja parte da criação, se ausentaria Ele de si mesmo? Existiria criação sem que pudesse haver a presença de Deus?

Os processos naturais são ferramentas de Deus, que, a cada dia, desenrolam Seus propósitos e que direcionam todas as coisas, boas ou ruins, em sinergia, ao glorioso dia da volta do Cristo, dia da redenção prometida por Deus. Acredito que, assim como na natureza, a presença de Deus é evidente em nossas vidas, uma vez que fomos criados à Sua imagem e semelhança, ou seja, podemos criar coisas novas, a partir de tudo o que Deus já fez; temos poder de abstração e raciocínio, característica humana que embora já nos tenha colocado em maus lençóis, pela perversidade dos corações, igualmente encontrou a cura para diversos males, que há tempos atrás eram considerados irremediáveis. Criamos novas coisas a partir do que o Senhor criou, sendo nós, pela misericórdia dEle, dotados de alto poder de influência nos ambientes em que estamos.

Se somos Corpo de Cristo, cabe a nós influenciar em amor e, embora sejamos falhos, sabemos que ainda podemos fazer o melhor pudermos, e que isso, mesmo sendo insuficiente para ajudar a todos, pode ser algo capaz de atender uma pequena necessidade, num ponto específico do mundo, de uma pequena pessoa, tão pequena como nós mesmos. Se somos corpo de Cristo, devemos também seguir o seu exemplo e não tão somente pensarmos em nós mesmos. Cristo entregou sua vida em favor de pessoas como eu e você, pessoas que já O ignoraram e que talvez já tenham, pelo menos uma vez, se esquecido do quão frágeis são, de como são uma parcela ínfima da criação, de como sua existência é limitada e breve.

Digo tais coisas por perceber que, às vezes, a nossa resistência à aceitação do que é natural, como por exemplo a morte ou outras coisas consideradas "ruins", é normal; e, muitas vezes, olhamos para elas como se fossem punição ou mesmo injustiça, por simplesmente não estarem de acordo com a nossa vontade. Ora, se são coisas naturais e tudo está sob o controle do Deus, tenha certeza de que Ele sabe porque isso deve acontecer. Não estou dizendo mesmo que não se deve fazer nada para salvar a vida de alguém, mas sim que compreender o significado da presença de Deus não só apenas vai além de percebê-lo no natural, como também, tomar nossa cruz, segui-lo e especialmente contemplar Sua presença no natural de forma que o fato de aceitar os desígnios de Deus para as nossas vidas transcenda o que tomamos por ruim, ou mal, e passem a simbolizar uma Vontade boa, perfeita e agradável. Algo que, independente do que for, seja uma experiência santa de comunhão com o Criador e concedida apenas por graça.

Como um pai, Deus nos educa através da sua obra, da qual somos parte, sob as regras da qual toda criatura é sujeita.

Assim vivemos.

Vivamos, assim, em nosso devido lugar.